As vendas de caminhões no Brasil devem voltar a crescer em algum momento entre o início do quarto trimestre
de 2012 e os primeiros meses de 2013, de acordo com previsão de
montadoras e consultores do setor. A partir deste período, a indústria de veículos
pesados deverá estar com seus estoques normalizados e se beneficiar da retomada da
economia nacional, que em agosto apresentou dados positivos que indicam
recuperação. Economia em aceleração significa mais carga a ser transportada pelas
estradas, com o segmento de caminhões tendo impacto direto do aumento da
demanda por operações de frete.
Em agosto, a economia nacional deu os primeiros sinais de
retomada do crescimento. As vendas de papelão ondulado subiram 6,48% em
relação a igual mês de 2011, as de cimento aumentaram 7,3% nesta mesma base
de comparação e as vendas do varejo cresceram 6,1% na
comparação com agosto do ano passado. Sondagem divulgada na semana passada pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a produção industrial
apresentou alta de 51,1 pontos em julho para 54,7 pontos em agosto, o segundo
avanço consecutivo. Nas estradas pedagiadas, o movimento de
veículos pesados subiu 4% ante julho, puxado pela regularização dos estoques no
setor automotivo,
explicou a Associação Brasileira de Concessionárias de
Rodovias (ABCR).
Esses sinais e os estímulos concedidos pelo governo federal
para a compra de veículos pesados animam empresas do setor para os próximos
meses. "O primeiro semestre foi desafiador para a indústria de
caminhões, mas estamos confiantes para este próximo trimestre pois o mercado já sente
alguns sinais de recuperação", diz o diretor-geral da Scania do Brasil,
Roberto Leoncini. O executivo destaca tanto a redução de juros para a compra de
veículos pesados - o do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) caiu para
2,5% ao ano - quanto benefícios voltados ao crescimento de demais setores
industriais. "Essa lógica é simples: se há mercadoria a ser transportada, há
demanda por caminhões", explicou Leoncini.
A Iveco espera impacto positivo das ações de estímulo apenas
no início do ano que vem. "Devido às medidas de estímulo anunciadas
recentemente pelo governo federal, nós prevemos que toda a cadeia do setor de
caminhões sinta efeitos positivos daqui a quatro ou cinco meses", afirma o
diretor comercial da empresa, Alcides Cavalcanti, destacando que esta previsão se aplica
tanto para vendas quanto para a produção de veículos.
Para a International Caminhões, marca da norte-americana
Navistar, os sinais de aquecimento da economia indicam uma retomada aos níveis
normais da produção da montadora, que estava num ritmo mais lento de produção
nos últimos meses para adequar seus estoques à realidade do mercado. "O
mercado voltou a mostrar sinais de aquecimento, mas como a oficialização
destas medidas (redução de juros do PSI) aconteceu no final da semana
passada, a International Caminhões acredita que o mercado apresente uma melhora
somente em outubro", comunica a empresa, em nota enviada à Agência Estado.
O mercado de caminhões sofre um forte abalo neste ano em
decorrência da antecipação de compras de veículos pesados ocorrida em 2011.
A partir de janeiro deste ano, as montadoras foram obrigadas a produzir
caminhões no padrão EURO-5, com tecnologia que consome um combustível
menos poluente.
Os novos veículos saíram das montadoras cerca de 15% mais
caros e o caminhoneiro ainda enfrentou um problema de falta de
abastecimento com o diesel utilizado nos caminhões recém-fabricados. A
insegurança pela adoção do EURO-5 levou o consumidor e as empresas frotistas às lojas
para adquirir veículos no padrão antigo (EURO-3) antes que os estoques se
esgotassem.
O consultor sênior da Carcon Automotive Julian Semple afirma
que dados do nível de produção industrial e de utilização dos pedágios são um
termômetro "fiel" da produção e de vendas de caminhões no País. De acordo com
ele, muitas das montadoras ainda passam por um processo de ajuste de
estoques, mas que "não há dúvidas" de que haverá um aumento das vendas neste
segundo semestre estimulado pela retomada da economia e pela colheita da
safra de grãos. "Há uma inércia entre a recuperação da economia e a compra de
caminhões, então deveremos ver a melhora (nas vendas) a partir de outubro ou
novembro", diz.
Já o gerente de Atendimento ao Cliente da consultoria Jato
Dynamics, Milad Kalume Neto, acredita que o reflexo do crescimento econômico
só será visto nas vendas de pesados a partir de 2013. "Ainda há duvidas
quanto à infraestrutura para o caminhão EURO-5 e à manutenção mais cara do veículo.
As empresas estão inseguras", explica. "A tendência é a
retomada da economia vir a repercutir no mercado de caminhões no começo do próximo ano", diz.
"Esse ano será totalmente desastroso, mas em 2013 haverá uma melhora."
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