Tradicional, o evento se confunde com a história da indústria automobilística brasileira, estabelecida em 1956, com a fabricação do Romi-Isseta. Apenas quatro anos depois, lá estava o salão para servir de vitrine para 12 montadoras na primeira edição, sediada na Bienal do Ibirapuera. Wyllis, Simca e FNM foram os grandes destaques daquela primeira edição.
Quatro anos mais tarde, um certo modelo fez o público entrar em furor. "Há sempre evolução, mas revolução só com o Uirapuru". Por esta simples explicação do curador do Museu do Automóvel de Brasília (DF), Roberto Nasser, já é possível ter uma noção do poderio do modelo 4200 GT da Brasinca. "Ele chegou na época em que o salão simbolizava o orgulho de brasilidade, em que o País sorria. O Uirapuru mostrou que o Brasil era capaz de fazer, e fazer bem."
Também arrancaram olhares admirados dois modelos distintos. O Malzone, com cara de bonzinho, contrastava com o esportivo Capeta, que pelo nome já recebe características adequadas.
A instalação da Fiat na cidade mineira de Betim foi o grande acontecimento do momento. "Ela se instalou em um Estado sem indústria e tornou-se líder de mercado. A chegada do Fiat 147 representa muito mais do que apenas o lançamento de um carro", contextualizou Nasser.
O pequenino modelo italiano foi a cara do salão de 1976, em época em que cada feira era lembrada pelo lançamento de um determinado modelo. Um exemplo é o ‘Salão do Chevette', como ficou marcada a feira de 1974. "Foi a edição mais especial para mim.
Entrei na GM em 1971 para participar da produção do modelo que acabou tendo volume de 1,6 milhão de vendas", enalteceu o vice-presidente da General Motors, Marcos Munhoz.
A fim de resgatar dez anos de pouco impacto, veio a abertura para importações que colocou Porsche, Audi, Jaguar e diversos outras marcas que transpuseram a barreira da imaginação para o mundo real. "Houve também uma mudança de conceito da nossa indústria. Se antes víamos apenas pequenas mudanças em veículos já esgotados, a partir de 1990, as montadoras perceberam que podiam fazer mais", analisou Nasser.
De lá para cá, só ganhos. Carros conceito foram disseminados, além de correntes ecológicas formadas por modelos híbridos e elétricos. Em 2006, foram completados 50 anos da indústria automotiva brasileira. "Foi quando criamos o lema ‘paixão, emoção e evolução', que representa muito bem este evento", explicou o diretor da feira, Hércules Ricco.
"Tenho certeza que o próximo salão vai ser marcante. Haverá cobertura de imprensa internacional como nunca houve. Não quero parecer pretensioso, mas queremos que o evento chegue ao patamar de Genebra (Suíça), Frankfut (Alemanha), entre outros", anseia o executivo da GM Marcos Munhoz, que conclui que a última feira foi internacionalizada, mas a que está por vir será internacional.
Agora é a vez dos ecológicos
Claro, o evento terá aqueles automóveis que fazem parte do imaginário popular. Ferrari, Maserati, Aston Martin, Bentley e tantas fabricantes de máquinas superesportivas estão confirmadas. No entanto, a briga acirrada está em torno de modelos mais acessíveis ao bolso do brasileiro.
Basta ver a General Motors apostando grande parte de suas fichas no lançamento do hatch Onix. "A intenção é que ele seja o mais vendido da nossa nova linha de 20 carros", aponta o vice-presidente da companhia, Marcos Munhoz.
Para os que curtem grandalhões, vale a pena ficar ligado na apresentação do utilitário Grand Blazer.
Já a Volkswagen faz uma volta ao passado em grande estilo e coloca a tradição de um de seus mais queridos modelos à prova com a exposição do novo Fusca.
Para a Kia, uns dos destaques do último salão, a intenção é continuar o bom momento vivido pelas sul-coreanas. "Muitas marcas vieram a nosso estande para ver o que a gente estava fazendo. Isso mostra a importância que ganhamos", festejou o assessor da marca, Koichiro Matsuo.
Ou seja, vale a pena contar os dias para o início do Salão de São Paulo.
Grande ABC marcou época
De São Bernardo saiu uma das sensações da edição de 1968 do Salão do Automóvel. Ele atendia pelo nome de X-1. A nomenclatura simples não fazia jus à dinâmica do protótipo desenvolvido pelos alunos da FEI (Fundação Educacional Inaciana). Além de trafegar em superfície concreta, o veículo anfíbio circulava tranquilamente sobre a água.
"O FEI X-1 serviu para impulsionar a engenharia automobilística da década de 1960, no qual não tínhamos muitos profissionais especializados. Jovens da época como eu, se espelharam nesse projeto em suas formações", exaltou o professor de Engenharia Mecânica Automobilística, Ricardo Bock.
O anfíbio foi transportado do Grande ABC até a Capital causando empolgação pelas ruas onde passou. Na Bienal do Ibirapuera, chegou a ser conduzido pelo então prefeito paulistano, o brigadeiro Faria Lima, que era piloto de avião.
O modelo tinha peso de 380 kg e contava com e motor de 845 cm³ de 32 cv, provenientes do Wyllis Gordini. Na água, atingia 20 km/h, na terra, chegava a 150 km/h, guiados por câmbio de quatro marchas.
O professor Bock conclui que a construção do protótipo em três meses serviu para mostrar o potencial da indústria brasileira, que havia acabado de completar apenas 12 anos. "Era um modelo pelo menos 20 anos à frente de seu tempo".
Fonte: Diário Grande ABC
Nenhum comentário:
Postar um comentário