3 de agosto de 2011

Ônibus Zero Km

Num país com dimensões continentais como o Brasil, onde o principal modal de transporte é rodoviário, o mercado de veículos novos sempre recebeu grandes investimentos dos fabricantes e montadoras. Para o caso específico da produção de ônibus, há a união de dois segmentos industriais; o de fabricantes de chassi – que reúne o motor, eixo e câmbio – e as montadoras de carrocerias, que produzem todo o acabamento. Na primeira parte da reportagem especial sobre ônibus zero quilômetro, vamos enfocar a produção de motores e na segunda parte, que será publicada na próxima edição da revista Fretamento, vamos mostrar o mercado de carrocerias.


Há combinações de motores das principais fábricas internacionais com várias carrocerias de empresas brasileiras e multinacionais que disputam o movimentado mercado brasileiro. Para garantir a preferência do consumidor, as empresas investem pesado em novas tecnologias, automação e materiais para garantir conforto, melhor desempenho e economia.

Existe uma grande variedade de opções para o empresário renovar a frota com veículos novos, que é a melhor alternativa apontada por especialistas, pelo desempenho e custo da manutenção. As novidades nesse mercado são veículos que atendem as exigências de sustentabilidade e preservação ambiental, com motores menos poluentes e com fontes alternativas de combustíveis, como o biodiesel e até motores híbridos, elétricos e a diesel.

O crescimento do mercado de modelos rodoviários

No primeiro semestre desse ano, a produção de ônibus novos no Brasil cresceu 4% em relação ao primeiro semestre de 2010. Os modelos de ônibus rodoviários apresentaram grande crescimento com índice de 27%. Por outro lado, os modelos urbanos tiveram aumento de 0,9% no semestre. Mas a fabricação de ônibus urbanos ainda é bastante superior aos modelos rodoviários.

O crescimento da produção e das exportações de ônibus rodoviários indica um aquecimento do mercado do transporte rodoviário e de fretamento, com empresas ampliando e renovando a frota. No primeiro semestre desse ano foram produzidos 22.066 ônibus, sendo 18.875 urbanos e 3.191 rodoviários. As estatísticas da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), são referentes a produção de chassi de ônibus nacionais, um mercado bastante disputado entre seis grandes empresas: Agrale, Iveco, MAN/Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania e Volvo.

Na estatística de ônibus novos licenciados entre janeiro e junho de 2011, o ranking das empresas de chassi está com a Mercedes-Benz em primeiro lugar com 7.082 unidades, sendo 1.157 no mês de junho. A empresa vice-líder é a MAN – Volkswagen Caminhões e Ônibus, que licenciou 5.415 chassis. Em terceiro lugar está a Agrale com 2.219 unidades. Em seguida vem a Iveco com 700 unidades, que foi a empresa que teve o melhor índice de crescimento, registrando 221% de aumento nos licenciamentos em relação ao primeiro semestre de 2010. A MAN/Volkswagen teve o segundo melhor crescimento no período, com 54%. A Volvo também apresentou grande taxa de crescimento na produção, com 42%.

Nas exportações, também foi verificada a tendência de aumento nos modelos rodoviários e queda nos urbanos. Os ônibus rodoviários apresentaram crescimento de 35,4% e as exportações de ônibus urbanos registraram uma queda de -20,4% nos seis primeiros meses de 2011. Mas a venda de ônibus urbanos para o exterior ainda é maior, com 2.518 unidades, sendo que os modelos rodoviários tiveram 1.167 veículos exportados no primeiro semestre de 2011.

Tecnologia e Meio Ambiente

A partir de janeiro de 2012 entra em vigor no Brasil a fase P-7 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), que equivale a norma européia Euro 5 de níveis de emissão de poluentes para motores diesel. O prazo para a adequação tecnológica das empresas foi determinado de acordo com a Política Nacional de Meio Ambiente através de resoluções do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). As empresas desenvolveram motores menos poluentes e mais econômicos.

A MAN Latin America utiliza dois tipos de tecnologia para diminuir a emissão de poluentes em até 60% e redução de 7% de consumo do diesel. Os sistemas desenvolvidos são o SCR (Redução Catalítica Seletiva) e o EGR (Recirculação de Gases e Exaustão, em português). Além da menor emissão de poluentes, o EGR também proporciona menor consumo de combustível, baixo ruído e maior intervalo de manutenção. A tecnologia SCR utiliza o composto líquido Arla 32, à base de uréia e água desmineralizada.


A MAN também iniciou nesse segundo semestre uma parceria com a empresa norte-americana de biotecnologia LS9 para testar o biodiesel UltraClean. O produto é feito através da fermentação de açúcares e durante os testes serão adicionados 5%, 10% e 50% ao diesel comum, até o teste com a propulsão do motor em 100% de biodiesel.

A Mercedes-Benz do Brasil vai aplicar a tecnologia BlueTec 5, já utilizada nos motores europeus, para se adequar ao Proconve P-7. O sistema é utilizado desde 2005 na Europa e já passou por três anos de testes no Brasil para ser disponibilizado a partir de janeiro de 2012 no mercado nacional Segundo a montadora, a BlueTec 5 reduz drasticamente a emissão de poluentes, com menor consumo de combustível e excelente desempenho.


Os efeitos de outras tecnologias secundárias apresentadas pela Mercedes-Benz também refletem na redução de consumo de combustível e como conseqüência, menor poluição. O sistema FleetBoard, de gestão de frota através de computador de bordo, pode reduzir o consumo em até 15%, através do fornecimento de dados para análise do comportamento de motoristas, para diagnósticos remotos de falhas e diminuição de custos de manutenção. As informações também podem ser acessadas em tempo real através de aplicativos para iPhone e iPad.

A Iveco também desenvolve aplicativos para acompanhamento de frota através de celulares. Nesse ano a montadora lançou um aplicativo para aparelhos iPhone com informações úteis para motoristas, como localização de postos de combustível, mapas e rotas rodoviárias. O aplicativo usa as informações de GPS sobre as rodovias e pode calcular os preços de viagens, com as informações de consumo do veículo e de pedágios. Em março a montadora anunciou uma promoção com lançamento do GPS MultiConnect já incluído em alguns modelos de fábrica. O roteirizador tem capacidade de arquivar dados de endereços e programar a melhor rota, caminhos mais fáceis e alternativos e até localização de radares.

Já a marca sueca Volvo anunciou que vai começar a produzir ônibus híbridos no Brasil. O chassi 7700 Hybrid é movido a eletricidade e óleo diesel. O chassi tem a configuração 4×2 e em 2012 será feita uma pré-produção, com a previsão de fabricação de 80 unidades. Segundo a fábrica, a tecnologia híbrida da Volvo proporciona economia de 35% combustível e redução de gases poluentes entre 80% e 90%, em relação aos motores convencionais.

O sistema “híbrido em paralelo” funciona com dois motores, um elétrico, que trabalha em baixas velocidades, e um tradicional a diesel, que só entra em funcionamento acima da velocidade de 20 km. Quando o veículo fica parado momentaneamente no trânsito das cidades, em semáforos, os motores se desligam automaticamente e o motor elétrico volta a funcionar quando o motorista pisa no acelerador.

Outro dispositivo da tecnologia funciona quando o freio é acionado e a energia da desaceleração recarrega as baterias para ser utilizada em aceleração. A Volvo também vai entrar no segmento de ônibus semipesados no Brasil e vai investir R$ 10 milhões para fabricar o chassi B270F, com motor dianteiro. A Volvo investe para disputar o mercado de ônibus com motor dianteiro, que segundo empresa é formado por 60% de veículos urbanos e 40% de fretamento e rodoviário.

A Agrale também pesquisa tecnologia para aproveitamento da energia dos freios e lançou o modelo Hybridus. O sistema de propulsores híbridos, denominado ELFA, foi desenvolvido em parceria com a Siemens e utiliza a energia da frenagem que é armazenada e reutilizada nas partidas. Com essa tecnologia o motor diesel precisa ser ligado somente quando houver a necessidade de maior aceleração. Se houver grande capacidade de armazenamento, o veículo poderá ser usado somente com a energia elétrica. O motor diesel também é independente e pode ser acionado independente da velocidade.


Na busca de energias alternativas e combustíveis menos poluentes para motores de ônibus, a Scania foi uma das pioneiras e há 20 produz motores de ônibus movidos a etanol, baseados na combustão de diesel. A empresa considera atualmente o etanol um dos combustíveis renováveis mais econômicos para utilização urbana. A Scania investe na tecnologia de bicombustíveis, e defende a transição gradual para o biodiesel. Em alguns motores da marca, já é permitido o uso de até 100% de combustível Fama, o biodiesel utilizado em motores diesel a base de éster metílico de ácido graxo.

Liderança do Mercado

A maior parte do mercado brasileiro de ônibus é dominada por duas empresas de origem alemã, a Mercedes-Benz e a Volkswagen, que produzem veículos no Brasil há mais de 50 anos. As empresas juntas dominam mais de 75% do mercado nacional de chassi de ônibus. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) em 2010 a Mercedes-Benz teve a participação de 50,23% do mercado brasileiro de ônibus e a Volkswagen registrou 26,36%.

A Mercedes-Benz montou a primeira fábrica no Brasil em 1956 e em 1958 fez o lançamento do primeiro ônibus monobloco do país, o modelo 321H. Em 1966 lançou ônibus monoblocos interurbanos e em 1970 apresentou os modelos com motor traseiro (OH1313) e com motor dianteiro (OG 1313). Já em 1987 desenvolveu um modelo movido a gás natural e em 1998 foi pioneira no lançamento do primeiro chassi com injeção eletrônica no Brasil.

João Luis Garcia é gerente de Produtos da Sambaíba, concessionária da Mercedes-Benz em São Paulo e diz que a fábrica produz grande variedade de modelos para atender as necessidades do maior número de clientes. “É a mais completa linha do mercado, são 18 modelos, desde microônibus até veículos com quatro eixos”. Ela explica que as vendas são fechadas com os clientes que escolhem o chassi e em seguida fecham negócio também com as empresas de carrocerias, que retiram o chassi na fábrica para a montagem do restante do acabamento e depois entregam o produto final ao cliente. João Garcia diz que já estão sendo vendidos os modelos 2011-2012 e que a linha 2012-2012 só estará disponível em janeiro do próximo ano, já com as adequações de redução de poluentes da Fase 7 da resolução do Conama.

A Volkswagen produz automóveis no Brasil desde 1953, época da montagem do primeiro Fusca. Em 1981 surgiu oficialmente a Volkswagen Caminhões e Ônibus, que garantiu o controle acionário da Chrysler Motors do Brasil, que produzia os caminhões Dodge. Dois meses depois da criação da empresa foi lançado o primeiro caminhão com motor movido a álcool do Brasil. Em 1984 foi lançado o VW 140, primeiro veículo de grande porte movido a gás metano/biogás.

O primeiro chassi de ônibus foi produzido em 1993, chamado Volksbus 16.180. Em 1996 foi inaugurada a fábrica de Resende-RJ para a produção de caminhões e ônibus em um sistema de Consórcio Modular que reúne os fornecedores na mesma linha de montagem. Atualmente são produzidos nove modelos de chassi de ônibus, que são exportados para mais 30 países da América Latina, África e Oriente Médio.

O supervisor de Marketing do Produto / Ônibus da MAN Latin America – Caminhões e Ônibus Volkswagen, Roberto Pavan, respondeu algumas perguntas sobre as características de mercado e produção e estratégias da empresas em busca da liderança:

Como a Volkswagen se situa no mercado de ônibus novos e quais as estratégias para o crescimento?
A MAN Latin America, fabricante dos Caminhões e Ônibus Volkswagen, é vice-líder no segmento de ônibus. Desde 1993, ano de nossa entrada no segmento de ônibus, pautamos nossas atividades em dois pilares principais: Tecnologia e Parceria com o cliente. Como exemplo disso, ressaltamos nosso lineup, um dos mais completos do segmento tendo chassis desde micro-ônibus até veículos rodoviários e também nosso pós-venda. Hoje, como parte de um dos maiores fabricantes mundiais de veículos comerciais, temos acesso a novas tecnologias, o que muito em breve nos proporcionará uma linha ainda mais completa.

Como funciona a produção de ônibus, a empresa fornece os motores para a montagem em outras empresas, ou faz o produto completo?
O processo de venda de ônibus no Brasil tem certas peculiaridades o que o tornam bem diferente quando comparado a países da Europa por exemplo. Enquanto na Europa as montadoras são responsáveis pela fabricação do veículo completo, seja na própria fábrica ou através de parceira com outras empresas, no Brasil, as montadoras são responsáveis apenas pela fabricação e venda de chassis, que se constituem basicamente de longarinas, eixos e trem de força (motor, transmissão e eixo trativo). No Brasil, seguimos as características de mercado e somos responsáveis apenas pela fabricação e venda do chassi, porém vale ressaltar que todos os nossos produtos são desenvolvidos colhendo opiniões de vários “players” do segmento, inclusive fabricantes de carrocerias.

Com está o mercado de ônibus novos atualmente em comparação com anos anteriores?
O mercado de ônibus está bastante aquecido e deve continuar assim pelo menos até o final desse ano. O volume de vendas que até 2005 mantinha uma média anual em torno de 16.000 unidades iniciou um crescimento contínuo a partir de 2006 e fechou o ano de 2010 com 31.000 unidades vendidas. Em 2009, o efeito da crise afetou levemente o volume de vendas, porém prontamente recuperado no ano seguinte. A previsão desse ano é que o mercado chegue a 35.000 unidades.

Sobre os preços, quais as tendências, de queda ou aumento? Há condições especiais para empresas de transportes, como no segmento de fretamento, por exemplo?
Como em todos os produtos, incremento em tecnologia inevitavelmente significa aumento nos preços. Em 2012, entrará em vigor a Fase P-7 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), equivalente a norma européia Euro 5, que define os limites de emissões de poluentes para motores do ciclo diesel e para atender aos novos limites será necessária a utilização de dois tipos de tecnologia: EGR e SCR. Independente da tecnologia a ser empregada no veículo é esperado um acréscimo de 10% a 20% no preço em comparação com os modelos atuais. No Brasil, quase que a totalidade dos ônibus é adquirida via Finame, que oferece as mesmas condições para qualquer tipo de operação.

Quais os principais lançamentos e as novidades nesse segmento (veículos mais econômicos, desempenho, menos poluentes, etc.)?
Estamos na fase final do trabalho iniciado em 2008 de desenvolvimento de produtos que receberão soluções tecnológicas para atender às exigências dos novos limites de emissões de poluentes. Todos os modelos foram intensivamente testados e atendem os níveis de NOx e Material Particulado especificadas pelo programa Proconve P-7 (Euro 5). Para oferecer veículos que tragam vantagens para a operação e não só o aumento de custo, devido aos novos motores que reduzem a poluição, trabalhamos nossos produtos para ter melhorias em desempenho e em custos operacionais.

Fonte: Sinfrecar